quarta-feira, 14 de maio de 2008

Se ao menos fosses como ele.

Uma lágrima caiu no final.
Apenas uma, não mais, não menos.
Uma forte lágrima, por mim, por ti, por nós.

Magoas-te-me, não hoje, não agora, não antes.
Magoas-te-me no nosso futuro, o nosso futuro que me recusas,
que não quiseste, que não podemos ter.
Não te queria deixar partir.

Refugias-te-te de mim, fugis-te de mim, tiras-te-me a tua vida, a nossa.
Assustei-te, afugentei-te, com a minha obsessão por ti.
Guardei-te nas gavetas, em papelinhos e retratos,
nos armários em roupas e adereços, nas estantes em agendas e livros.

Enclausurei-te na escuridão da minha alma, aprisionei-te dentro de mim,
e mesmo assim soubeste fugir, soubeste por que fissura sair,
pela abertura que crias-te na minha parede, a tua fenda de luz branca,
que abriu caminho para a realidade, da qual eu te queria tirar.

Não, sei que não voltarás, e o erro foi meu, em deixar-te amolecer a pedra em que me tornei.
Devia ter-te acorrentado, ter dominado a tua força,
mas agora já não estás, já não és entre nós, já não somos nada,
somos apenas eu, eu, e o que restaria da tua lembrança em mim,
lembrança que deixei fugir, por medo, por covardia.

Não vale a pena tentar recuperar-te,
é tarde de mais, foste longe de mais,
não consigo alcançar-te, nem mesmo dentro de mim.

Perdi-te para sempre, num sempre infinito, indefinido,
e o resto de ti, do teu reflexo, naufragou agora,
no desvanecer desta ultima lágrima que deleito por ti.

Sem comentários: