quarta-feira, 14 de maio de 2008

Time is passing by.

Gostava de voltar atrás no tempo.
Sempre foi o meu poder de eleição.
Quando era pequena e me perguntavam que poder queria ter se fosse possível, dizia sempre que gostava de poder mexer o tempo e o espaço contido nele, porque o tempo infinito e indefeso, e o espaço imóvel e sossegado, que aparentemente não mudariam nada, fariam a diferença toda.
Dizem que as pessoas não se deviam de arrepender do que fazem ou não fazem, dizem, mas toda a gente se arrepende de vez em quando.
Eu tenho-me vindo a arrepender de muita coisa, mais das que não faço do que das que faço, porque verdade seja dita, não tenho feito lá grande coisa, alias, não tenho feito nada mesmo. E isso está a mudar o meu presente, e sei que vai mudar também bastante o meu futuro.
Por mais que se diga que o passado fica lá atrás, e o que interessa é o presente, a verdade não é bem essa, o passado fica sempre marcado em nós, física, mas muito mais psicologicamente, porque as feridas físicas ficam marcadas no interior da nossa alma com rancor de quem...
Sou nova, sei que sou, a esperança média de vida de uma mulher na Europa vai até aos 80 / 85 anos, ainda nem 1/4 dela vivi, mas já tenho medo do passar dos anos.
Tenho uma crise de meia idade com 17 anos. Isto não está certo.
Tenho reparado naquilo em que as pessoas se transformam com o passar do tempo, perdem a piada, a paciência, o espírito aventureiro, o desejo por algo, ficam caladas, frias, distantes, maldosas, desconfiadas, solitárias. E contudo, o espaço não varia, fica saturado.
Não quero ficar assim.
Devia de ter aproveitado melhor a vida, e supostamente ainda tenho muito tempo para a aproveitar.
Procuro sempre por alguém mais velho, sempre apreciei um bom par de anos a mais, se pudesse ter amigos de 90 anos em pele e espírito de 20, vivia feliz.
A idade não são só as rugas, alias, não as são de todo, a idade é a mentalidade de cada um, tal como há idosos com mentalidades de crianças, há jovens com mentalidades de adultos, mas continua-lhes a faltar a experiência, e essa só se merece com o passar do tempo. E as memórias, só se sabem no final da vida, as que ficaram e as que foram.
Todos recebemos um livro em branco quando somos concebidos pelos nossos pais, antes pensava que o livro era para colorir, desenhar, escrever, recortar e colar, agora percebo que é para apenas andar connosco, deixar que o seu desgaste o leve, e ver qual de nós vai primeiro. Achava que as cartas e as fotografias nos mantinham mais próximos uns dos outros, e sustentavam as memorias por mais um pouco, mas agora vejo que é apenas falsidade de pensamento, as recordações quando tiverem de se ir embora, vão, é porque já não fazem mais sentido em nós, guarda-las em pedaços de papel, ia apenas distorcer a nossa realidade.
Gosto de tirar fotos, mas não sei que ponto elas não perturbam a minha visão do mundo. Acabo por não reter o que cheirei, toquei, ouvi e senti na hora da fotografia, mas apenas a imagem capturada por uma maquina, e quando reparo nisso, sinto uma falta de memória em mim.
Ultimamente tenho notado memórias em sabores, aromas, toques, sensações.
O cheiro a pinheiro, lembra-me dos piqueniques, o cheiro a chuva lembra-me das férias, o cheiro a lavanda lembra-me da minha casa, o cheiro a bolachas lembra-me a casa da avô, o cheiro a queimado lembra-me do incêndio, o sabor a chocolate lembra-me da casa da Drika, o sabor a vinagre lembra-me da cantina da escola, o sabor a manga lembra-me do Vítor, e o sabor a salgado lembra-me dos grelhados na casa da outra avô. Os abraços do Vítor lembram-me de que devo ter paciência com ele, e os beijinhos da Drika lembram-me da quanta falta me faz, os empurros do meu irmão dizem-me que um dia vou sentir falta deles, e a cor alaranjada acaju do cabelo da minha mãe, e o bigode do meu pai.
Sinto-me mais completa quando fecho os olhos e imagino isto tudo, do que com um monte de fotografias á minha frente.
Isto está a perder o nexo todo.

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