Vejo-te pouco, mas ver tenho a certeza que já vi.
Ou nem vi, nem preciso, vejo-te de olhos fechados.
Não sei explicar, talvez não tenha explicação, mas ultimamente és a minha única verdade.
Espero que não me mintas, que não sejas também tu uma mentira.
Se fores, bem, vou ter de aprender a viver com isso, também, será apenas mais uma mentira no meio de muitas.
Mas mentira não és. E verdade também sei que não és. Ou estarei já a mentir eu também?
Não consigo distinguir verdade de mentira, e eu queria muito que fosses verdade, que fosses mentira.
Apenas tu és a mentira, a minha verdade. És a minha mentira, e és toda a verdade que tenho.
Aprendo contigo, ensinas-me muito lentamente, mas quando ensinas aprendo logo, não caio nos teus erros, não da forma como tu cais-te.
E aprendo, aprendi a levantar-me, e tu ainda não foste capaz disso, ainda estás caído, e vives essa tua mentira que achas ser melhor que esta minha verdade.
Pois bem, estou um passo á tua frente, estou dois, porque passei de aprendiz a mestre.
Agora vou-te ensinar eu, vou ser rápida, e sei que vais ser lento, sempre foste, sempre te disse, nota-se pelo andar. E este sempre não passa também da nossa mentira, talvez da nossa verdade...
Vou cortar muitas frases, aquelas que tu me dizias e eu sempre as soube, aquelas que fazias cara de quem sabia que eu sabia, mas achavas por bem dize-las, pois essas meu velho, vou tirar-tas, vais ter de merecer ouvi-las, ir atrás delas, e sei que te vão soar como trovões, te vão queimar como fogo, mas vais aprender com elas, como me fizeste a mim arder quando as repetias demasiado.
Vou-te torturar, até aprenderes a não mentir. Se não for pela verdade, vai ser pela mentira, mas tu vais acreditar nela, mais do que em ti, mais do que em mim.
E aí vamos outra vez trocar. Vais estar então três passos á minha frente, e meu mestre vais voltar a ser. Vais-me ensinar o que te ensinei, porque foi isso que aprendes-te de mim, mas não comigo. Foi isso que te ensinei às escondidas. Ensinei-te o que aprendi contigo.
Quase um ano. E mais de um ano já lá vai.
Percebes-te agora porque me importo tanto com a verdade. Porque ao longo deste tempo, fomos a verdade um do outro, fomos um o outro. Não somos mais eu e tu, somos nos, a verdade e a mentira, escondidas uma atrás da outra, uma na outra.
E a verdade desta mentira toda não passa do acreditar. Porque ambos acreditamos, porque ambos sabemos, que são as mentiras um do outro que trazem as verdades um ao outro.
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